domingo, 27 de dezembro de 2009

Adeus 2009!

O ano de 2009 foi meio esquisito. Não gosto de dizer que foi ruim para não trazer má sorte, mas foi meio esquisito. E eu sobrevivi com dignidade. Não vou dizer que não ficaram sequelas, mas estas cicatrizam depois... Adeus 2009! Não sentirei saudades, mas obrigada mesmo assim!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Minissaia, taleban, Brasil


Parece que não adiantou nada chegarmos até aqui. A civilização às vezes anda pra trás (tenho medo de que Jack London tenha razão ao ter escrito "A Praga Escarlate", quando a humanidade, depois de um pico cultural e tecnológico involui pra terra de selvagens). É o caso da minissaia. No Afeganistão, sob o regime Taleban, não pode usar. As muçulmanas e hindus – por motivos religiosos, também não podem. No Brasil, na Uniban, também não pode. E, em caso de uso, é legítimo xingamento, piadinha, humilhação e expulsão da faculdade.

Passamos pela contracultura, pela defesa dos direitos da mulher, pelos direitos civis, pela ditadura e não aprendemos nada.

Botar as pernas de fora já foi símbolo de emancipação, do mesmo modo como quando Chanel colocou calças compridas em mulheres. Usar ou não a minissaia fez parte do empoderamento da mulher. No Brasil, não é mais: virou imoralidade. Ou segundo a Uniban, "flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade”.

Chegamos a uma civilização medíocre... por favor, me levem pra Vênus.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Dia de cão


Você percebe que teve um dia ruim quando descobre que não é uma pessoa tão legal quanto gostaria, que as pessoas não acham você uma pessoa tão legal quanto você gostaria, que tá sendo enquadrado pelo chefe, que o seu carro tá na reserva no meio de um engarrafamento quilométrico, que o seu cabelo tá parecendo um poodle depois da natação e que você não pode nem se afogar no chocolate porque descobriu que tem intolerância à lactose.

Pé-de-pato-mangalô-três-vezes!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

McDonalds, protesto, Islândia



A crise econômica derrubou os McDonalds da Islândia. A empresa decidiu sair de lá porque está muito caro manter um McDonalds no país.

A Islândia, que a gente conhece mais como o país da Björk, também ficou conhecida como o país que quase faliu com a crise global. Pois se há males que vêm para bem, a crise mexeu com a população, que mexeu as panelas e na “Revolução das Panelas” tirou o governo anterior. Protestar parece senso comum quando não se tem nada a perder...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Nem riqueza, nem fama

Foi numa primavera sem flores, cinzenta e chuvosa de Paris que Ana Clara, brasileira recém-chegada à França, conheceu um espanhol de Cartagena, com antepassados da Andaluzia, talvez ciganos. Ele mesmo não soube dizer. O espanhol, além de advogado, torcedor fanático de futebol e um homem um tanto rude, tinha um dom secreto – o de ler mãos. E por um desses acasos misteriosos de uma vida, a brasileira ficou cara a cara com o destino.

Foi revelado a Ana Clara mais do que ela gostaria de saber. Num instante de descuido, o advogado de Cartagena pegou as mãos de Ana Clara e leu-as.

- Faltam linhas em sua mão, falou o espanhol, como se revelasse algo de muita importância.

- Quais?- perguntou Ana Clara, num tom entre desprezo e curiosidade.

- As da riqueza e da fama, disse o espanhol, sem dó nem piedade.
E num impulso (quem estivesse por ali talvez dissesse que foi por medo), Ana Clara puxou as mãos e deixou o advogado de Cartagena falando sozinho. Que lesse a própria mão e chateasse a si mesmo, pensou ao se levantar.

A brasileira vagou pelas ruas de Paris, quem sabe a Cidade Luz mostrasse algo mais àquela que estava condenada a ser uma pessoa comum. Caminhando, ela olhou para os que estavam por perto e ninguém a notou. Pensou que eram todos “farinha do mesmo saco” e foi desse jeito vulgar que pensou não se reconhecerem por todos estarem incógnitos como gente comum. Talvez fosse a prova do que lhe foi dito.

Não seria rica e nem famosa. Ana Clara então lamentou não ser jamais uma dançarina internacional, nem uma grande cantora ou uma cientista de prêmio Nobel, apesar de não ter talento para nenhuma dessas coisas e nem mesmo tê-las desejado.

Menos inconsolável, ela sentou-se em uma daquelas cadeiras viradas pra rua num daqueles cafés parisienses, também comuns. Montou o quebra-cabeça de sua vida e o que parecia ser desgraça, era destino. Tudo pode ser apagado, mas nunca esquecido. Olhou para as pessoas que passavam pela rua. Não pareciam nem um pouco insatisfeitas em serem apenas o que são. De vez em quando, notou um sorriso no canto dos lábios em algumas daquelas gentes. Teve a idéia louca de perguntar como era levar uma vida ordinária, mas preferiu esperar e ter sua própria experiência.

Algumas horas depois, Ana Clara voltou a procurar o espanhol, agradeceu a leitura esotérica, se desculpou pela fuga e se comprometeu a ser o que sempre seria e o que sempre tinha sido até agora. E percebeu que o desafio era enorme, porque nada impedia uma pessoa comum de ser especial.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Maldade humana

Em conversa de bar consideraram que a maldade e a intolerância são parte intrinsecamente genética do ser humano. O ser humano é mau, nasce mau e se torna mau porque faz parte dele. Eu, como pollyanna incurável e otimista de carteirinha, discordo. Primeiro porque ninguém até hoje comprovou que a maldade está nos genes da raça humana, segundo porque nós somos todos um pouco bons e um pouco maus, mas daí a seguir a maldade como forma de vida são outros trocados. E isso vai depender de onde você viveu, com quem você viveu, de que forma você viveu, quais são suas referências e influências culturais, familiares, sociais. Enfim, é complexo descobrir porque alguns são mais maus do que outros e mesmo assim é uma análise fadada ao fracasso porque muitas vezes não existem explicações suficientes para isso.

Também não considero a maldade como essência do humano porque dessa forma estaria justificando todas as aberrações da história: holocausto, fascismo, nazismo, inquisição, genocídios.
Não existe preto no branco, mas escalas de cinza, ou seja, pela estrada da vida cada um comete sua maldadezinha de vez em quando (às vezes se arrependem...) ou suas bondadezinhas aqui e acolá. E tem aqueles que se sobressaem por algum motivo (social? Familiar? Cultural?) no jogo de maldades e de bondades na vida. E muitas vezes, como na África do Sul por exemplo, a violência – prima da maldade – é uma defesa contra o esquecimento.

Na África do Sul a polícia foi terceirizada porque a violência assumiu o país. Lá, as pessoas são pobres. Lá faltam “forças da ordem” pra botar ordem na pobreza e por isso começaram a surgir empresas que oferecem o serviço. E o fazem de forma brutal.

Em um documentário da tevê a cabo eu vi um ladrão pego por uma empresa (aí elas o entregam pra polícia) ser espancado à vara lá na África do Sul. O repórter do documentário, quando viu o ladrão com as mãos algemadas para trás, a camisa encharcada de sangue e os olhos esbugalhados de terror e medo depois da surra, perguntou o que tinha aconteci ao chefe da equipe pegou o elemento. “Demos uma lição nele”, disse o chefe. “Mas não é um exagero brutal?”, perguntou o Theroux. “Se a gente dá uma lição neles, eles nunca mais vão roubar”, explicou o chefe. O fato é que a surra não funciona, porque os ladrões continuam surgindo por toda a África do Sul, paralelamente à miséria.

Eu não justifico a violência e esse caso é o extremo do que pode acontecer quando as pessoas não têm mais nada a perder, ou a ganhar. São todas más?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Coisas simples da vida


Embora fosse muito chique eu ser chique, não sou. No início era sofrido, mas agora que eu pago as minhas faturas ficou simples. Por exemplo, pra conquistar meu coração não precisa me chamar pra lanchar num café francês, porque meu lanche preferido é leite com Toddy + pão com manteiga (pode até ser pão dormido). Também adoro pastel de banana com queijo, mas aí tem de ser ocasião especial. Eu não uso salto alto: primeiro porque com 1,57m nada me faz parecer mais alta e segundo porque eu adquiri dores na coluna. Não gosto de fazer as unhas toda semana porque tenho preguiça e ninguém vai gostar mais ou menos de mim só porque eu tô com as unhas pintadas ou não né. Eu não gosto de usar batom, porque toda vez que uso, parece que sou outra pessoa. Eu não uso maquiagem importada... porque eu tenho alergiaaaaaaaa! (Mas das coisas da Avon eu não tenho...). Não posso usar jóias porque como eu sempre perco, vira prejuízo. Então, sou a simplicidade em pessoa...

domingo, 4 de outubro de 2009

Todavía Cantamos

A argentina Mercedes Sosa, “La Negra”, cantora da liberdade, morreu aos 74 anos neste domingo. Sua voz e suas músicas continuam vivas. Hasta Siempre.


Todavía Cantamos

Mercedes Sosa


Todavía cantamos, todavia pedimos,
todavía soñamos, todavía esperamos.
A pesar de los golpes que asestó en nuestras vidas
el ingenio del odio, desterrando al olvido
a nuestros seres queridos.

Todavía cantamos, todavia pedimos,
Todavía soñamos, todavía esperamos.
Que nos digan a donde han escondido las flores
que aromaron las calles persiguiendo un destino.
Donde, donde se han ido.

Todavía cantamos, todavia pedimos,
Todavía soñamos, todavía esperamos.
Que nos den la esperanza de
saber que es posible
que el jardin se ilumine con las risas y el canto
de los que amamos tanto.

Todavía cantamos, todavia pedimos,
Todavía soñamos, todavía esperamos.
Por un dia distinto sin apremios ni ayunos
sin temor y sin llanto y por que vuelvan al nido
nuestros seres queridos.

Todavía cantamos, todavia pedimos,
Todavía soñamos,
todavía... esperamos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Gagueira na hora H

A parte mais ridícula de ser eu é a minha gagueira (temporária). Eu fico gaga, mas só diante de pessoas que admiro e homens interessantes. E isso é muito inconveniente porque na hora em que mais preciso do meu discurso inteligente-interessantepracaramba não consigo nem falar bla-bla-bla de uma só vez.

A primeira vez que percebi o problema foi com o marceneiro. Eu precisava de um armário embaixo da pia da cozinha e chamei um marceneiro. E ele veio. E na hora em que abri a porta ele era um deus grego, “phyna” flor da marcenaria. Ele resolveu me fazer muitas perguntas (pra poder fazer o móvel) e eu, gaga, não respondi por inteiro nenhuma delas. Resultado: tiveram de mandar outro marceneiro lá em casa e esse outro não tinha graça nenhuma. O armário ficou pronto em menos de um mês.

Mas a não-entrevista com o padre Fábio de Melo foi um dos piores momentos de todos os meus tempos. A gagueira deixa a gente meio incompetente nessas horas. O padre, perdoem o trocadilho, é divino de lindo. Sorrindo então... é coisa do céu. Na hora de fazer as perguntas não só fiquei gaga como burra. Um colega me salvou, mas a dor moral de ter feito o papelão (ou pastelão?!) teve efeito de ressaca de vodca...

O capítulo mais recente do meu reality show “Eu, uma gaga” foi com um instrutor-gato-da-natação. Ele resolveu conversar comigo. Eu sempre evito isso, mas dessa vez fui pega de surpresa:

- Oi, tudo bem? Você está melhor da sua coluna? A natação está te ajudando em alguma coisa? – perguntou

- Ahan – eu disse, pra evitar qualquer impulso de gagueira

- E os exercícios da academia estão de ajudando? – insistiu

- Claro – eu disse, entrando em pânico e sentindo a gagueira surgindo nas veias

- Você ainda tem dor? – continuou perguntando

- De-depende do exercício – eu disse, já com a gagueira iminente

- Qual exercício? – insistiu!

- Le-leg press – eu disse, pensando “Meu Deus, será que ele vai insistir nisso?”

- Olha só – falou o cara, já tirando a camisa (pra mostrar a posição certa da coluna na hora de fazer o tal movimento) e mostrando toda a beleza do tipo "ô lá em casa"
-Tenho que ir, tchau! – eu disse, saindo correndo, porque aí já é demais, não tem gagueira que aguente...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ah, mundo moderno...

O mundo gira, gira e muda tão pouco... tão pouco que estou suspirando, com um pouco de tristeza e desapontamento pela suposta evolução humana...

Li e precisava mostrar isso (se não acreditar é só clicar no link):


Eu, Mustapha Kessous, jornalista do "Le Monde" e vítima do racismo


Brice Hortefeux tem um grande senso de humor. Sei disso, ele me fez uma piada um dia. Quinta-feira, 24 de abril de 2008. O ministro da Imigração e da Identidade Nacional iria me receber em seu majestoso gabinete. Um encontro para falar das greves dos "sem-documentos" [estrangeiros em situação irregular] nas empresas. Eu nunca o havia encontrado. Estou esperando com minha colega Laetitia Van Eeckhout no palácio do governo. Brice Hortefeux chega, me estende a mão, sorri e diz: "Você está com seus documentos?"

Três meses depois, 7 de julho, dia de meu aniversário de 29 anos. Estou cobrindo o Tour de France. Preparo um artigo sobre as pessoas que moram na beira das estradas. Sobre o asfalto molhado perto de Blain (Loire-Atlantique), me aproximo de uma família empolgadíssima com a passagem da caravana, para conversar. "Com você eu não falo", me lança um jovem de vinte e poucos anos. Ao meu lado, meu colega Benoît Hopquin não encontra nenhum problema para conversar com essa "França profunda". Mais tarde ele me contou que, depois que nós nos identificamos, uma funcionária da organização o chamou para saber se eu era seu... chofer.
Eu pensava que minha "qualidade" de jornalista do "Le Monde" iria finalmente me preservar de meus principais "defeitos": ser um árabe, ter a pele escura demais, ser um muçulmano. Eu achava que minha credencial de imprensa me protegeria dos comentários de pessoas obcecadas pelas origens e pelas aparências. Mas qualquer que seja o assunto, o ambiente, a população, os preconceitos persistem.

Falo muito sobre isso com meus colegas: eles mal acreditam quando lhes descrevo esse "apartheid mental", quando detalho as pequenas humilhações sofridas quando estou fazendo uma reportagem, ou no dia a dia. Para quê me apresentar como jornalista do "Le Monde", se não acreditam em mim? Alguns não hesitam em telefonar para a o jornal, para avisar que "um tal de Mustapha tentou se passar por jornalista do 'Monde'!"

Faz muito tempo que não digo mais meu nome quanto me apresento pelo telefone: é sempre "Sr. Kessous". Desde 2001, quando me tornei jornalista, na redação do "Lyon Capitale" e depois na do "Le Monde", "Sr. Kessous" soa melhor: nem imaginam que o repórter é um descendente de árabe. O grande rabino de Lyon, Richard Wertenschlag, me confessou, com um sorriso: "Eu achava que o senhor era da nossa comunidade".

Tive de amputar parte de minha identidade, tive de apagar esse nome árabe de minhas conversas. Dizer Mustapha é correr o risco de ver seu interlocutor se recusar a falar com você. Às vezes digo para mim mesmo que estou sendo paranoico, que estou enganado. Mas isso aconteceu tantas vezes...

Quando entrei no jornal, em julho de 2004, fui para a ilha de Barthelasse, perto de Avignon, para cobrir uma notícia. Um menino havia sido assassinado com uma machadinha por um marroquino. Fui até a casa onde se passou a tragédia, bati à porta, e o primo, de cinquenta e poucos anos, que tentou reanimar a criança ensanguentada, me olhou friamente dizendo: "Não gosto dos árabes". Por fim, ele me recebeu em sua casa.

Pensavam que o assassino havia fugido do hospital psiquiátrico da vizinhança: liguei para a direção, e falei com a responsável: "Bom dia, é Kessous do jornal 'Le Monde'...." Ela disse que me receberia com prazer. Quando cheguei lá, a secretária lhe avisou de minha presença. Uma mulher de muletas passou na minha frente, eu lhe abri a porta, ela me encarou sem dizer bom dia nem obrigada. "Onde está o jornalista do 'Le Monde'?", ela disse. Bem atrás da senhora, eu me apresentei.

Na hora achei que essa diretora iria desmaiar. Ainda sem um bom-dia. "O senhor está com sua credencial?", ela me perguntou. "O senhor tem um documento de identidade?" "Da próxima vez, senhora, peça para que lhe enviem por fax a minha ficha criminal, assim ganhamos tempo", eu respondi. Fui embora, claramente irritado, me sentindo impotente, antes de ser detido mais adiante pela polícia que acreditava ter... encontrado o suspeito.

(...)

Tenho tantas histórias como essa para contar. De mim, falam que sou de origem estrangeira, um árabe, ralé, islamita, delinquente, um selvagenzinho, um "árabe burguês", um filho da imigração... Nunca um francês, simplesmente francês.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Fome... de poesia

Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.


Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.


Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.


Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,


Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.

(Sophia de Mello Breyner)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Coração partido


Querida M.,


Você me perguntou outro dia quando corações partidos voltam a ser inteiros. A verdade é que eu não sei. De uma hora pra outra, um coração partido se vê inteiro, mas nunca o inteiro de antes, um inteiro com mil retalhos, com cara de outro coração. Corações partidos rondam por aí, muitos incógnitos e outros nem tanto, mas nesse nosso planeta, de cabo a rabo, do Alasca ao Zaire, de cada dez pessoas, dez terão seus corações partidos em muitos momentos de uma existência inteira. E desses dez, dez terão seus corações inteiros de volta na mesma existência. Então, corações partidos nunca estão sós. Todos os dias, compartilhamos nossas dores partidas com milhares de desconhecidos e o mais interessante é que são dores únicas e que nos fazem parecer únicos. E todos os dias, milhares de outras pessoas compartilham sua inteireza, uns com generosidade e outros nem tanto.

O fato é que nessa vida não temos momentos só de inteireza ou não estamos o tempo todo partidos. E os momentos de inteireza ou partidos não são privilégio de ninguém, estamos todos sujeitos a um e outro pelo resto de nossa existência. E a notícia mais chocante é que nossos corações ficam partidos e inteiros muitas vezes em uma mesma vida e ficar partido vai doer, sempre. A boa notícia é que sempre voltamos a ser inteiros, mas não tem regra e nem tempo. Então, tenha paciência, sua inteireza está dentro de você. Mas um coração partido não pode ser ignorado, precisamos passar junto com ele todos os momentos partidos. Ou então, ele nunca deixa de estar partido...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Obsessão do momento


Faz duas semanas que eu acordo pensando nessa música, vou trabalhar escutando essa música e até durante a natação só dá a música na cabeça. Não é que a gente se sente rebelde quando canta a plenos pulmões "I want you to be crazy cause you're boring babe when you're straight"...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Morte e vida severina

Emocionar-se diante da vida, pelo que eu saiba, é exclusividade humana. Pois hoje eu perdi o fôlego diante da morte. Perdi mesmo. Foram quase cinco segundos sem respirar, porque respirar me pareceu tão efêmero diante da (exclusiva?) crueldade humana que eu parei. Na tevê, de manhã cedo, mostraram a busca dos bombeiros do Rio por corpos de desaparecidos no Morro do Juramento. A história é ainda mais escabrosa, porque os familiares de desaparecidos acompanharam os bombeiros na busca, na tentativa (porque não há nunca esperança ao encontrar corpos...) de identificar seus mortos.

Na empreitada sórdida morro acima, Seu Adelson, que já procurava seu filho há alguns dias, reconheceu um corpo com as roupas de Adilson, de 18 anos, que namorava uma jovem do Juramento. Só reconheceu as roupas, porque o rosto foi desfigurado por uma tonelada de tiros. Nessa hora, pensei que azar também pode significar morte e Adilson foi vítima do azar de ter nascido pobre, morar na comunidade Furquim Mendes - dominada por uma facção criminosa rival à que atua no Juramento – ter sido confundido com alguém da quadrilha rival, ser executado e ter seu corpo infamemente jogado em um matagal no meio de um morro.

“O coração de pai não vai enganar”, desabafou o pai, achando ter tido sorte encontrar um corpo para enterrar.

Que vida mais severina...


“E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida). “


(João Cabral de Melo Neto)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Silêncio


Cada vez mais valorizo o silêncio. Não o silêncio do calar-se, mas aquele que nasce dentro de cada um, esquenta as entranhas e toma conta da alma. É o silêncio original, para o qual quase não temos mais tempo. E são nesses momentos – em que o silêncio cresce dentro de nós – que nos deparamos com nós mesmos, escondidos ali debaixo de um barulho infernal que é a vida de hoje. O silêncio perturba, desestabiliza e provoca milagres: faz cego enxergar, faz surdo escutar e mudo falar.

Pensei nisso enquanto recebia uma bela massagem na manhã ensolarada do domingo passado. Eu, no meu silêncio original, a cabeça à mil com todos os meus pensamentos descontrolados e em certo minuto o massagista disse: “Olha, você pode falar quando quiser tá?!”. Tá. Mas era o meu silêncio. Às vezes eu preciso disso.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Vival el pueblo


Às 9h10 do dia 11 de setembro de 1973, o então presidente do Chile, Salvador Allende, resultado da união das esquerdas chilenas, proferia à Radio Magalhães, debaixo da mesa de sua sala no Palácio La Moneda e sob bombardeio pesado de caças americanos, seu último discurso. Ele e mais de três mil pessoas pagaram com a morte a defesa de uma nova sociedade.


"(...)La historia es nuestra y la hacen los pueblos (...) Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor (...)", disse.

Allende, presente, agora e sempre.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Breaking news

- Nos Estados Unidos a cada sete segundos e meio uma família é desalojada de sua casa e 14.000 perdem o emprego por dia

- O juiz espanhol Baltazar Garzon - que condenou Pinochet por crime contra a humanidade - está sendo julgado por investigar o desaparecimento de dezenas de milhares de pessoas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a ditadura do general Francisco Franco. Se perder, deixa de ser juiz

- Governo francês recomenda suspender os beijos no país para evitar Gripe A. Pouca gente anda atendendo à recomendação


Pra onde vai esse mundo, minha gente?!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Tempos de delicadeza...


Primeira cena

No fim da noite, a moça morena olha para o dono do café e pergunta:

- Por que você guarda todas essas chaves dentro de um vaso?

- As pessoas as deixaram aqui e nunca vieram buscar

- Me conte alguma história dessas chaves.

- Escolha uma

A moça morena pega a chave com uma abelha de pelúcia como chaveiro e entrega para o dono do café.

- Essa aqui era de um jovem casal que imaginou passar a vida inteira juntos

- E o que aconteceu?

- Vida

- Como assim?

- A vida passou e mudou tudo. Só isso

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A moça morena pergunta para o dono do café o que faz as pessoas deixarem as outras.

- Ás vezes é melhor não saber e outras vezes não há razão nenhuma. É como bolos e tortas. Todas as noites eu tenho aqui cheesecakes e a torta de blueberry. E no final da noite sempre sobra uma torta de blueberry inteira.

- O que tem de errado com ela?

- Nada. Ela simplesmente não foi escolhida...


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A moça russa pára em frente ao café e procura o homem.

- Por que você veio aqui?

Ela não responde, mas pergunta:

- Você ainda guarda todas aquelas chaves?

- Eu guardei pensando no que você disse uma vez sobre “deixar as portas abertas”. O único problema é que mesmo quando as portas estão abertas não significa que vá encontrar a mesma pessoa de antes...


Os diálogos tão delicados são do filme “Um Beijo Roubado”, com Norah Jones e Jude Law.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A vida é dura

C.C. tem apenas um ano de idade a mais do que eu. Quando descobriu isso ficou surpresa, mas não fez cara de chateada ou talvez porque tenha problemas tão mais importantes para se preocupar. C.C. mora em Águas Lindas de Goiás e trabalha na casa de meus pais de segunda a sexta-feira. Chega, religiosamente, às 7h. De sua casa até a de meus pais são quase 60km, o que de carro daria uma meia hora, mas C.C pega, todos os dias, uma condução antes das 6h para chegar às 7h em ponto no trabalho. E C.C tem dois filhos – um deles é o “Bombomzinho”, o qual não conheço, mas que sempre liga durante o dia - , ganha um salário mínimo e trava aquela batalha diária da sobrevivência que é um clichê tão grande quanto o número de pessoas que estão na mesma situação dela.

C.C. leva uma vida dura. Uma vida da qual a classe média desse país não tem ideia porque está bastante preocupada em resolver questões como quantas prestações vai comprar o carro do ano, em qual barzinho da moda vai desfilar as roupas compradas em um outlet de New York e quando vai sair a próxima promoção da CVC para os EUA.

Então, por tudo isso, é bem explicável que eu pareça mais jovem que C.C. Minha batalha diária se resume a resolver minha insatisfação filosófico-existencial. Tudo isso me faz lembrar do diálogo que li num livro sobre duas filósofas francesas contemporâneas: Simone Weil e Simone de Beauvoir. Na Faculdade de Filosofia, Beauvoir e Weil discutiam a Revolução. Beauvoir dizia que a solução para uma nova sociedade era “encontrar um sentido para a existência" e nesse momento Simone Weil retrucou: “Bem se vê que você nunca passou fome”. Boa resposta.

terça-feira, 25 de agosto de 2009


Sinto saudades do que eu não tive. Sinto falta do que eu não fui. Sinto a ausência de quem não esteve. Foi preciso uma vida inteira pra eu me tornar quem me tornei e ainda assim sinto as reticências... E agora?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Cadê o Woodstock da minha geração?


Deu no New York Times: “À medida que as décadas se desenrolam, o festival (de Woodstock) parece mais do que nunca um golpe de sorte: um momento de graça, lamacento, despenteado e difícil de acreditar. Foi tanto um ponto final quanto um começo, um feriado de ingenuidade e sorte cega antes que as realidades do capitalismo retornassem.”


Pois às vezes fico esperando algo inesperado e louco acontecer pra mudar alguma coisa, um efeito borboleta qualquer, nem que seja em uma parte remota do mundo, um minuto do pensamento. E fico imaginando que há 40 anos umas 300 mil pessoas se jogaram na lama, no calor da liberdade e da contracultura pra ouvir Joan Baez, Santana, Jimi Hendrix, Joe Cocker, Janis Joplin. Pois não é que eles mudaram uma geração? E a gente, somos capazes de mudar nossa apática-insatisfeita-geração?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sem cair no poço


O ser humano não perdoa. Principalmente a si mesmo e o problema é que no final o que sobra é aquele poço sem fundo de culpa, desespero e frustração. Ai, se a tudo perdoássemos quantos dinheiros todos economizariam com psicólogos e terapias!!! Imagina, uma vida emocional sustentável !(que não sobra nada pra ninguém, nem culpa, nem acusação, nem decepção!)... Imagina se fosse fácil...

Pois quando eu era criança contava quantas vezes tinha perdoado alguém (porque a culpa não era minha nunca né) pra ver se chegava nas contas de Cristo (não foi ele quem falou pra perdoar 70 vezes 7 vezes?) e não chegava... Mas quando a gente cresce, descobre que difícil, mas difícil mesmo é perdoar-se, porque no fundo, nosso mundo exige uma perfeição que ninguém nunca vai ter, até porque o mundo é perfeito à maneira de sua imperfeição... E que afinal, não se trata de culpa, mas de responsabilidades a assumir...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Máquina da independência

Pra mim, um dos maiores símbolos de independência é a máquina de lavar roupas. Pois lavar a roupa a qualquer hora (ou não) é até um ato de rebeldia. E acho ousadíssimo. Íssimo mesmo. E o negócio é o seguinte: na minha máquina nem sempre eu separava as roupas. Roupa branca, sempre. Mas o resto ia ao sabor da criatividade. E isso não é independência, gente!? Tem coisa mais independente do que chegar da academia com a roupa suada, a meia suja, aí você joga tudo na máquina, aperta o botão e pronto! Que saudade da minha electrolux 8kg... ai, ai...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Meu dom oriental


Eu tenho um dom: sei diferenciar chinês de japonês. Não tenho como explicar, mas é só bater o olho que eu sei quem é japonês e quem é chinês... eu descobri isso quando vi o filme “O Clã das Adagas Voadoras” (revi nesse findi). O filme é chinês, mas o mocinho do filme é japonês. Quando ele apareceu na primeira cena, pensei “mas esse cara é japonês, não é chinês!”. Passei o filme inteiro pensando porque um japonês participa de um filme chinês que se passa na China. Enfim, não sei. O que eu sei é diferenciar japonês de chinês. E não me venham dizer que em um caminhão cheio de chineses é difícil dizer quem é quem, porque eu também sei diferenciar um chinês do outro e se tiver um japonês no caminhão, eu bato o olho e identifico.

Eu não sei se isso algum dia vai ser útil na minha vida. Mas que eu sei diferenciar, ah, isso eu sei.

A propósito: o nome do mocinho do filme é Takeshi Kaneshiro, o pai dele é japonês e a mãe de Taiwan.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Coisas que...

... Não fiz, mas devia...

- Dado-uns-pega-no-windsurfista-gato de Jericoacoara que passou quatro dias se jogando pra cima de moi (e eu não fiz nada, porque eu sou mané dimaisdaconta)

- Dizer pra Luciana do 1º ano que além de metida, ela era gorda dimaisdaconta, pra ver se ela parava de me sacanear. Isso teria evitado vários traumas na adolescência

- Jogado o meu chapéu de formatura na colação de grau da UnB o mais alto que pudesse. Eu não joguei porque fiquei com medo de perder o chapéu e ele era alugado. Pois até hoje eu penso naquela cena

- Ter dito pra M. que ela é uma doida-cuspida-gorda-sem-noção, então vai cuidar da sua vida



...Fiz, mas podia não ter feito...

- Aberto a porta do carro em movimento quando eu tinha 7 anos e o carro quase me matou. Teria evitado uns traumas na família

- Trancado a minha irmã mais nova no quarto. Era só de maldade mesmo, mas até hoje eu tenho pena dela...

- Chamado o dep de burro, porque ninguém nasce sabendo e me custou caro...

- Ter sido tão insolente e arrogante em muitas situações. Ainda bem que a gente aprende errando.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Mulher moderna

Agora eu tô no twitter. Eu não sabia que havia o verbo twittar... mas a pergunta é: não é meio estranho todo mundo ficar sabendo o que a gente tá fazendo? Mas que eu agora tô moderna, ah, isso eu tô...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Coisas


Hoje não quero escrever sobre qualquer coisa. Minha casa está cheia de coisas de que não preciso. As coisas tanto fizeram que se tornaram mais importantes que as pessoas. Chega de tanta coisa. Quero mais pessoas espalhadas ao meu redor contando coisas engraçadas. Coisificaram até o Michael Jackson, mas no fundo ele era muito gente. Tanta coisa acontecendo e eu só penso numa coisa: cadê a pessoa que sempre esteve em mim?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Da série “Ideias bizarras porque é real” (pois o mundo é duro...)

- O incrível caso da mexicana dona Jacinta, 1,50m, mulher-pobre-indígena, condenada por sequestrar sozinha seis policiais. Isso é ainda mais bizarro porque é real...

- Geração Nem-Nem (Nem Estuda Nem Trabalha): Segundo pesquisa espanhola, só 40% dos universitários têm um trabalho de acordo com seus estudos. “Para os jovens não é emocionalmente rentável se comprometer com um projeto de vida definido porque pensam que estariam submetidos a vai-vens contínuos e que dificilmente chegariam a um lugar seguro”. Então eu sou Nem-Nem...

Da série “Ideias Suecas”


- Os suecos, que estão sempre à frente de seu tempo, criaram o Partido Pirata da Suécia que defende abolir as patentes, restringir o período de validade dos direitos autorais para poucos anos e proteger a privacidade de informações dos cidadãos

- As suecas, que não podiam fazer topless, agora podem. A terceira maior cidade da Suécia decidiu que as garotas podem tomar banho de topless na piscina. A conclusão foi que não seria correto obrigar as moças a cobrir os seios, já que não há qualquer regra sobre o que os homens devem usar quando estão na piscina.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Tempo, tempo, tempo


Hoje eu não tenho tempo pra você. Também não tenho tempo pra mim. Acordei sem tempo pra ir ao banco, tive pouco tempo para fazer exercícios. Meu tempo não me permitiu resolver os problemas do dentista. Almocei correndo, porque o tempo também estava. Cheguei no trabalho com pouco tempo para ver meus emails e falar com meus amigos. Minha mãe me ligou, mas não tive muito tempo pra falar com ela. O tempo não existe, é abstração, então veio alguém com muito tempo pra inventar a medir o tempo. Na medida, vieram junto a angústia, a ansiedade e a falta de tempo.

Sobrando tão pouco tempo no mundo, luxo mesmo é ficar sentado na grama, sob a luz do sol da manhã, desconhecendo qualquer tempo e aproveitando o silêncio de não fazer nada a não ser ter tempo...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Dentro do contexto


Ontem eu assisti ao programa da Oprah (Winfrey) e fiquei sabendo que a Lorena Bobbit – aquela que cortou o pênis do marido enquanto ele dormia e jogou o pedaço fora – era abusada pelo marido. Na época, infelizmente, eu não dei muita bola para o acontecimento porque achei a notícia meio piadística, e também porque eu era uma adolescente que estudava loucamente para o vestibular, por isso meu mundo era meio restrito.

Mas ontem finalmente entendi o drama de Lorena (fiquei íntima). O ex-marido, além de bater, depreciava a mulher verbalmente todos os dias. Era um inferno cotidiano a vida dela. Na noite em que ela cortou o pênis dele, ela tinha sido estuprada pelo companheiro. Depois só viu pela frente os insultos e surras que havia recebido durante tanto tempo. Não hesitou e cortou o dito cujo do homem com uma faca de cozinha. Cortou, jogou fora e saiu dirigindo pela cidade com a faca nas mãos.

O mais impressionante, porém, foi ela admitir que vivia um ciclo perverso: o da vítima de violência doméstica. “Eu tinha medo de ir embora, além disso, ele dizia que ia mudar e eu acreditava nele, acreditava que podia salvar meu casamento”, contou. A Oprah perguntou se hoje ela faria algo diferente. “Nunca teria me casado com ele”, disse, com a certeza de quem fechou um ciclo.

O ex-marido fez filme pornô (reimplantaram o órgão dele) e outras mediocridades artísticas. No ano passado, mandou cartão de Natal. “Vocês mantêm uma relação cordial?”, perguntou a Oprah. “Você está louca?! Eu não quero vê-lo na minha frente nunca mais!”, respondeu Lorena, que é casada há 14 anos, tem uma filha de 2, e faz parte de uma ONG que ajuda mulheres vítimas de violência doméstica.

E a vida segue...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Au revoir


Só pra constar: quando o Michael Jackson lançou a moda de dançar pra trás com sapatilha preta e meia branca eu obriguei a minha mãe a comprar uma igualzinha pra mim. O problema é que a preta já tinha acabado e ela comprou uma verde-limão... Aí perdeu a graça de aprender a dançar pra trás...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Telessexo a baixo custo


Mais uma da globalização. Deu no El País (juro): “Empresas de telessexo se instalam no Marrocos para baixar os custos”. O negócio é o seguinte: como na França o trabalhador custa caro porque lá ele ainda tem alguns direitos, o jeito é ir pro Marrocos, onde a empresa paga o equivalente a 1,9 euros por hora diurna e 2,55 por hora noturna. Um funcionário que trabalhe 40 horas semanais ultrapassa os 330 euros por mês, um terço do que ganharia na França. O país é muçulmano, mas como comprova a história econômica em qualquer século, Deus é bom, mas ter o que comer é melhor ainda.

Ou seja, a essa altura, com certeza, em qualquer outro lugar do mundo dos "países emergentes” tem alguém fazendo o que você faz ganhando menos da metade do que você ganha.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Tarzan


Hoje eu gritei dentro do carro. Foi um grito visceral, direto das entranhas, no meio da Estrutural. O vidro estava fechado então não passei por louca-total. E foi bom. Sabe o que é, a vida moderna me engole, me oprime, me sufoca. Já não aguentava mais, então gritei. Foi um grito de liberdade. E gritei duas vezes.

Agora entendo as pessoas que têm surtos psicóticos no decorrer da existência. Elas não gritaram alto, um grito que vem de dentro do estômago pra tirar aquele nó da garganta, o vazio no peito, a confusão dos pensamentos que se apossam delas. Elas aceitaram todas as cobranças do mundo sem pestanejar. Nem um gritinho. Nada. Aí, olha só o que acontece: dor na coluna, dor no dente, dor no estômago dor de cabeça, dor de viver! Ai!

Reivindico agora meu direito à preguiça. Digo não ao mundo do trabalho. Digo não às cobranças da modernidade.

E por incrível que pareça, o que Paul Lafargue escreveu no século XIX em seu “Direito à Preguiça” continua valendo:
“Uma estranha loucura se apossou das classes operárias das nações onde reina a civilização capitalista. Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais que há dois séculos torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda do trabalho, levada até o esgotamento das forças vitais do indivíduo

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Poema weekend

Instantes

Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio

(Sophia de Mello Breyner)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sou jornalista, quem dá menos?

Por favor, não me chamem de jornalista, porque eu sou chef de cozinha. Dr. Gilmar garantiu que “um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área”, assim como o jornalista.

A liberdade de imprensa pressupõe responsabilidade e não a falta do diploma para existir. O fato é que agora milhares de jornalistas estão órfãos de sua profissão e se perguntando por que passaram quatro anos em uma universidade para se graduar em uma profissão que não precisa de diploma algum.

Guardo lá em casa meu diploma de Bacharel em Comunicação com habilitação em Jornalismo, aliás sempre achei bem bonitinha essa designação. Agora ela é só bonitinha mesmo, porque sua função se foi com os votos do Supremo, assim como se foram meus sonhos de dignidade quando dizia Sou Jornalista. Só que agora eu não posso ser o que quiser (pra isso eu tenho que ter graduação em uma profissão), mas qualquer um pode ser o que eu sou...

Então essa é uma boa hora pra mudar de profissão, já que ela não existe mais.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Amapá não existe em SP

"A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo vai recolher um dos mapas que distribuiu em fevereiro deste ano. Segundo a mesma não está demarcada a divisa entre os Estados do Pará e do Amapá. Além disso, o Estado do Amapá está identificado de maneira incorreta. Há, ainda "outras incorreções gráficas": "as linhas divisórias entre os Estados encontram-se ligeiramente deslocadas em relação à base hidrográfica".

Dúvida que não quer calar: quem faz a escolha dos livros de São Paulo?

a) um americano
b) o inventor do WAR
c) um cego
de) um ex-participante do Show do Milhão

terça-feira, 16 de junho de 2009

Vem cá cintura fina, cintura de pilão


Minha mãe tem uma certa obsessão pela cinturinha de pilão. Eu acho que ela já fez de tudo pra ter cintura de vedete. Não sei qual a razão, mas minha avó também tinha o mesmo problema.

Não que ela tenha cintura de ovo, mas ela sempre quis ter de violão. Desde criança ela me ensina truques pra ter a-que-la cinturinha, mas o fato é que eu nunca vou ser uma Scarlett Johansson em termos de cintura (e nem de todo o resto).

Houve época em que minha mãe usou a técnica do cabo de vassoura junto com alongamento lateral (época Jane Fonda). Ela acordava cedo todo dia e ligava a tevê no canal 2 pra fazer a ginástica com o cabo de vassoura. Depois veio a fase do exercício da rotação, rodando o tronco com as pernas abertas e a mão na cintura,de um lado pra outro, mil vezes por dia. Ainda teve o período das “pences”nas roupas pra iludir o olhar.

Eu já sou trintona e a minha mãe continua obcecada pela cinturinha. Dia desses, ela me confessou que tinha comprado uma cinta do Tevêshop. Ela é viciada em Tevêshop e uma propaganda a convenceu depois de um depoimento muito mal dublado de uma gordinha que dizia: “Estou vestindo dois números a menos!”. Foi batata, ela comprou a cinta.

Animada, ela foi trabalhar vestida de cinta, sonhando com sua cinturinha de vespa. Minha mãe é professora de Geografia e durante a primeira aula, se achou fantástica. Na segunda aula sentiu um desconforto, mas pensou que era uma vantagem vestir dois manequins a menos. No intervalo não conseguiu conversar sentada com ninguém, o ar já lhe faltava, porque a cinta até diminuía os dois números, mas para isso acontecer apertava até o pensamento. No meio da terceira aula saiu correndo para o banheiro e com uma mistura de ira e desespero desabotoou a cinta, passou na sala dos professores e jogou-a no armário. Voltou para a sala de aula leve e feliz.

O problema é que quando ela jogou a cinta no armário passou um outro professor que testemunhou toda a cena e a cinta virou lenda. Como disse a minha mãe, a cinta afina a cintura e o juízo. Antes ter cinturinha de ovo do que cabeça de vento. E eu tô rindo até agora...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Traseiro em choque


O Brasil entrou em recessão oficialmente. O desemprego no mundo cresce com a crise econômica. Pyongyang tá na lista negra dos EUA depois de brincar de foguete nuclear. Cuba ganhou passe livre pra voltar a integrar a OEA. Na Serrolândia, estudantes da USP levaram porrada da polícia por protestar contra a falta de educação. O Bill do Kill Bill morreu. Israel já pensa em reconhecer o Estado Palestino.
Tudo isso acontecendo e eu só penso no meu traseiro inflamado e no momento do dia em que ele leva uns choques. O médico chamou de inflamação no sacro, mas pra mim o sacro é parte do traseiro. De bom grado vou às sessões de fisioterapia, abaixo as calças e levo choque. A fisioterapeuta explicou que o impulso elétrico dá um toque no cérebro e avisa que não é preciso mais sentir dor. É tão incrível que posso até me sentar. Já foram seis sessões de choque, faltam só quatro e eu ando pensando como vou viver sem isso...
Obs: Como sentar parecia uma tarefa impossível, demorei a postar por aqui...

sábado, 6 de junho de 2009

O Bill e a imprensa


Humilhante a forma como foi divulgada a morte de Bill (do Kill Bill) ou Gafanhoto (na série Kung Fu, mil anos atrás). Nem Quentin Tarantino teria sido tão criativo se tivesse escrito o ato final de Bill...

Preferi quando divulgaram que o corpo havia sido encontrado morto à declaração de que “uma corda estava presa em torno do seu pescoço e uma outra em seu órgão sexual. As duas estavam ligadas uma à outra e penduradas no armário". Segundo o general Worapong Siewpreecha da Polícia Metropolitana de Bangcoc, “nestas circunstâncias, não podemos estar seguros de que tenha cometido um suicídio, pois ele pode ter morrido (em um acidente) de masturbação".

A questão é: será que o mundo inteiro precisava saber disso mesmo?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Quando eu crescer quero ser Mosuo


O povo Mosuo, no sul da China vive sob o matriarcado há milhares de anos. E vão muito bem. E quando eu crescer quero ser igual às Mosuo por cinco motivos:

1) A vida sexual dos Mosuo é muito ativa: elas trocam de parceiro com frequência. Mas as mulheres decidem com quem elas querem passar a noite.

2) O lugar onde as mulheres moram tem uma entrada principal, mas toda mulher adulta tem sua própria cabana. Os homens vivem juntos numa casa grande. Quando um homem visita uma mulher, ele pendura o chapéu nesse gancho. Dessa forma, todo mundo sabe que a mulher está acompanhada. E ninguém vai bater na porta.

3) Se uma mulher se apaixona, ela recebe apenas aquele homem específico, e o homem só vai para falar com aquela mulher.

4) Quando uma mulher Mosuo pode conversar com um homem, fazer sexo, e sair com ele, então ela está apaixonada. O amor é mais importante para elas do que o compromisso. Elas querem estar apaixonadas. O motivo para ficar com alguém é o amor.

5) As mulheres Mosuo não estão interessadas em se casar ou constituir uma família com um homem. Quando o amor acaba, então tudo está acabado. Eles não ficam juntos por causa dos filhos ou por causa do dinheiro ou outro motivo qualquer.

domingo, 31 de maio de 2009

Tudo passa


Um ano atrás escrevi no meu celular uma mensagem para que todas as vezes que o ligasse, lesse: TUDO PASSA. Eu escrevi na esperança de que tudo, em um momento que tudo acontecia, passasse. Uma vez li em uma revista que mandar mensagens para o cérebro o ajudaria a entender e repassar a ideia do que se queria. Mandei. A cada vez que ligo o celular, as duas palavras aparecem com toda força, precisas. Alguém um dia me disse que, na pior das hipóteses, tudo passa, o que se tornou muito útil nos dias e noites de tormenta, porque além de mantra virou esperança. E esperança, como se sabe, nunca morre. Hoje eu liguei o celular e lá estava a mensagem. E eu chorei com um pouco de alegria e um pouco de tristeza porque pela primeira vez entendi que tudo, afinal, passa.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Da série "Pra morrer de rir"


Dizem que o bom da globalização é que tudo acontece ao mesmo tempo agora... Eu vou até concordar nesse caso: se não fosse por ela quando iríamos saber que três mil universitários do Reino Unido resolveram bater o recorde mundial de maior encontro de smurfs.?! O que aliás superou uma galera da Irlanda do Norte, que colocou mil azuizinhos nas ruas no ano passado...
Atenção na smurfete no centro da foto!!!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Descoberto o mecanismo da chatice


Foram necessárias décadas de pesquisa, todas muito chatas, para que tão importante descoberta se concretizasse. Dr. Gino, além de gênio do ramo da ciência genético-comportamental, tinha um bom motivo para romper as barreiras do desconhecido: sua mulher era muito chata, tanto quanto poderia sonhar qualquer filosofia.

O caso da Sra. Gino era espetacular. Ela era chata como um bêbado inconveniente, nunca sabia a hora de parar. Era uma chateação constante em casa, no trabalho, com os vizinhos, no supermercado e até na cama, com o marido, porque amante nenhum suportaria mulher tão insuportável. O problema é que a Sra. Gino contagiava os outros com sua chatice e isso sim era insuportável.

Nem mesmo a etiqueta social podia agüenta-la. Épocas de festas, aniversários e afins de conhecidos e parentes eram desesperadoras (para os conhecidos e parentes, claro). Convites tinham apenas o nome de Dr. Gino, um recado explícito para que deixasse sua desagradável mulher em casa. E se a tal comparecia (de vez em quando algum bom samaritano com crise de consciência a convidava), havia sempre um cantinho bem escondido para acomodá-los, pelo bom andamento da festa.

É muito difícil definir a chatice. O que pode ser dito é que ela se torna um estado permanente em alguns seres que se arrastam pela existência a chatearem o próximo sem se importarem com isso. Quem nunca teve um amigo chato, que atire a primeira pedra. Chato é aquele que manipula a conversa no bar com histórias insuportáveis de feitos impossíveis e que ninguém agüenta mais ouvir. Chato é aquele que NINGUÉM quer dar carona. Chato é aquele que nunca se anuncia para não atraí-lo...

Pois a Sra. Gino era tudo isso e muito mais. Ela era tão chata que no sexo sempre pedia rapidez porque tinha de acordar cedo, nem fingia mais o gozo para não se atrasar e depois do ato ainda fazia cara de quem comeu bolacha cream cracker amanhecida há três dias.

Com tal mulher em casa, Dr. Gino, cientista de boa reputação internacional e uma séria intenção, resolveu pesquisar o mecanismo da chatice. Foram quase 30 anos de investigação e milhares de dólares gastos, porque, ao que parece, chatice é uma questão de saúde pública. A descoberta levou Dr. Gino, um homem de meia-idade bastante carismático, ao fundo da questão: não era a genética e muito menos a educação que criavam a chatice, mas o próprio indivíduo.

A chatice, escreveu em seu artigo publicado na revista Human Nature, referência mundial em descobertas comportamentais, era um sistema de defesa que, assim como os glóbulos brancos no organismo, defendiam o ser humano dos ataques. Mas a chatice, descreveu, era uma falha, uma doença autoimune.

A pesquisa de Dr. Gino causou comoção na comunidade científica internacional, o que lhe garantiu convites para universidades conceituadas e investimentos em futuros trabalhos. Empolgado com o sucesso repentino, certo dia, Dr. Gino chegou em casa e preparou o jantar, comprou um bom vinho, encomendou a sobremesa e na hora do cafezinho pediu o divórcio depois de 30 anos de casado. Afinal, já tinha descoberto o mecanismo da chatice da mulher e a culpa não era dele...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Horóscopo sucks



Tem coisa mais ridícula e mentirosa que horóscopo?! A pergunta que não quer calar é: então por que eu leio todo dia?

Deu no meu horóscopo de hoje:

"Um dos melhores dias do mês pra você, do ponto de vista mental e espiritual. Emocionalmente, será importante cuidar pessoalmente de sua imagem, pois você tende a reagir com muita instabilidade. Suas ambições são problema seu; hoje se trata de agir em consonância ao grupo."

Ah, tá... Bom saber que tudo é problema meu... que a coletividade se f... Vou ler o de amanhã, pra ver se tem algo de mais positivo escrito nas estrelas pra mim.

sábado, 23 de maio de 2009

Natal ideológico


- A gente podia criar um cartão de natal pra distribuir pros amigos.

- Mas ainda estamos em maio...

- Então, o bom é que ainda temos tempo de criar

- Eu achei que você fosse comunista...

- E daí?

- Pelo que eu saiba Karl Marx não acreditava em Deus... e nem você

- Mas pode ser um cartão de natal ideológico!

- Ah, e diríamos o quê: “Trabalhadores do mundo, Feliz Natal!” ou então “De pé ó vítimas da fome! Feliz Natal!”

- Não, poderia ser uma mensagem positiva de natal, pra ajudar as pessoas a enfrentar o fantasma da crise que ronda o mundo


- Se você quisesse fazer um cartão de 1º de Maio eu entenderia, o que eu não entendo é porque tem de ser o natal

- É porque 1º de Maio já passou e eu quero o de natal

- Mas no natal o que comemoram é o nascimento de Cristo

- Quem inventou isso foram os cristãos

- Sim, e é por isso que eles comemoram...

- Eu posso desconstruir o conceito de natal e tirar esse quê mercadológico e fetichista

- Não, não pode. Natal é natal, não adianta forçar a barra

- Afinal, você está contra ou a favor?

- Eu só estou questionando. Vem cá, de onde você tirou essa idéia?

- Um colega de trabalho me mostrou o cartão de Natal que ele fez no ano passado e distribuiu para os amigos por email

- E era ideológico?

- Claro que não, só tinha um trecho de poesia que ele escreveu

- E você resolveu imitar por quê?

- Porque eu falei pra ele que eu poderia fazer muito melhor

- E o que você ganharia em fazer um cartão de natal melhor do que o dele???? Você por acaso acabou de sair do jardim de infância?! E pelo que eu saiba você nem poeta é...

- Mas eu posso fazer um cartão ideológico, sem poesia...

- Essa é uma das ideias mais ridículas que já ouvi vindas de você

- Tudo bem, mas você vai me ajudar ou não a pensar num cartão de natal?!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Meus grandes amores...


Me inspiro nos “grandes”. Nas grandes histórias, nos grandes escritores, nas grandes experiências. Até nos grandes amores, porque eles existem. E são grandes porque mudaram a vida dos amados e porque duraram tanto tempo quanto o tempo pode aguentar e porque eles sobreviveram às tormentas. Pois três grandes amores abalaram meu mundo para sempre:


Pablo Neruda e Matilde Urrutia


Eles se conheceram em 1946, voltaram a se encontrar em 1949 e nunca mais se largaram. Neruda era casado, mas amou Matilde e Matilde o amou ainda assim. Poucos anos depois, o poeta se separou e pediu licença à lua para casar-se com Matilde. Em 1959, ele escreveu Cem Sonetos de Amor, todos dedicados a Matilde. Ele morreu em 1973, de câncer, e um tempo antes escreveu um dos versos mais bonitos que já li, e era para Matilde: “Foi tão bom viver enquanto tu vivias...”


Mario Benedetti e Luz López Alegre


Ele conheceu Luz em 1937, quando tinha 17 anos. Casaram-se em 1946 e segundo ele, era uma vantagem e um investimento ter uma esposa com nome tão iluminado... Ela o acompanhou durante os 12 anos de exílio, fugindo da ditadura militar no Uruguai. Anos depois, Luz esquecia-se de apagar as luzes de casa, tendo a certeza de que apagava... já estava com Alzheimer...Benedetti cuidou de Luz até 2006, quando ela partiu. No último domingo, ele se foi também.


José Saramago e Pilar del Rio


Quando se conheceram ele tinha 64 anos e ela, 36. Em 1986, ela comprou e devorou um livro chamado Memorial do Convento. Dias depois, passou na livraria e comprou todos os livros do autor. Ela, jornalista, quis entrevistá-lo. Ela era de Sevilha, ele de Lisboa. A entrevista durou uma tarde inteira de conversa. Um dia, ele escreveu a ela que se as circunstâncias da vida dela permitissem, iria visitá-la. E as circunstâncias da vida dela permitiram. Ele acredita que Pilar é o seu definitivo amor... e ela gostaria que o clonassem...

Pollyannando...


Nunca me expliquei tão bem como John Reed e ninguém nunca me explicou tão bem...

"Devo encontrar a mim mesmo de novo. Alguns homens parecem encontrar seu destino desde cedo, crescendo naturalmente e com poucas mudanças em direção ao que virão a ser. Mas eu não tenho idéia do que serei ou farei daqui a um mês.

Toda vez que tentei ser algo, fracassei; foi somente ao vogar com o vento que me encontrei, e que mergulhei alegremente em um novo papel. Descobri que só me sinto feliz ao trabalhar intensamente em algo de que gosto.

Nunca me detive por muito tempo em algo que não me agradasse; e agora nem poderia fazê-lo, ainda que quisesse; por outro lado, há bem poucas coisas que não me dão prazer, nem que seja apenas a novidade da experiência.

Amo as pessoas - exceto as esnobes de barriga cheia - e me interesso por todas as coisas novas, velhas e belas que são criadas. Amo a beleza, o acaso e a mudança, não mais tanto no mundo exterior, porém muito dentro de minha mente. Suponho que sempre serei um romântico. "

terça-feira, 19 de maio de 2009

Aventura em Barcarena


Dia desses, alguém falou de Barcarena. Segundo o Wikipédia, Barcarena tem 102 mil habitantes é “um importante pólo industrial, onde é feita a industrialização, beneficiamento e exportação de caulim, alumina, alumínio e cabos para transmissão de energia elétrica”. Sei lá se dá pra confiar no Wikipédia, mas o que eu lembro de Barcarena é outra coisa. Eu lembro da Vovó Neném levando a gente pra uma aventura na selva, em Barcarena.

Em 1993, eu estava de férias em Belém e Vovó Neném chegou com a novidade: íamos para Barcarena.

- Barcarena?

Vovó explicou que era um lugar idílico do Pará, uma cidade de praia. Praia? De rio, claro. E explicNegritoou também o roteiro: primeiro pegava uma balsa, depois um ônibus e aí, pronto! Já era Barcarena...

Lógico que não foi bem assim. Até a parte da balsa, tudo lindo. Foi quase como a abertura da novela Pantanal sem a Isadora Ribeiro (só que no caso era na Amazônia). Teve boto (não era cor-de-rosa), papagaios, natureza exuberante.

Aí a lindeza acabou. Foi só pedreira mesmo, porque descobri que o ônibus até Barcarena não passava por estrada de asfalto (porque ela não existia...), passava por uma clareira aberta no meio da floresta. Mas o pior era o ônibus em si, que lembrava, sinceramente, aqueles dos filmes do Indiana Jones cobertos por tanta poeira que mal se viam. Lá dentro tinha tudo, galinha, criança chorando, porco, cachorro, menos lugar pra sentar.

Entre trancos e barrancos (literalmente), o ônibus chegou a Barcarena. E Barcarena não era um lugar idílico. Tinha uma rua principal e algumas casas, todas iguais. E a praia. Me explicaram depois que as casas pertenciam a uma empresa que extraía alumínio da região, porque, claro, pelo menos nessa época eu imagino que convencer alguém a morar em Barcarena só oferecendo o impossível. Bem, Barcarena cresceu, está como a foto e até virou pólo turístico.

Hoje eu confesso: não foi divertido ir pra Barcarena. Mas eu nunca falei pra Vovó. Essas seriam as últimas férias que passaríamos com ela. E foi uma aventura...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Poetas nunca morrem


Mario Benedetti, o poeta uruguaio, morreu ontem. Mas não morrerá nunca. Os poetas nunca morrem, eles se eternizam aconchegadamente em nossas estantes e até mesmo em nossos corações. Talvez por isso os poetas não se assustem diante da escuridão.

José Saramago, em seu blog perguntou: Que era em verdade Mario Benedetti, que havia sido ele em toda a sua vida, muito mais que as múltiplas profissões exercidas? Poeta.

Benedetti dizia que a poesia é “uma drenagem da vida/ que ensina a não temer a morte". E, assim, ele se foi. Mas ficará para sempre.

Vida longa a Benedetti!

En Pie

Sigo en pie
por latido
por costumbre
por no abrir la ventana decisiva
y mirar de una vez a la insolente
muerte
esa mansa
dueña de la espera

sigo en pie
por pereza en los adioses
cierre y demolición
de la memória

no es un mérito
otros desafían
la claridad
el caos
o la tortura

seguir en pie
quiere decir coraje

o no tener
donde caerse
muerto

(Mario Benedetti)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Série "Idéias Bizarras"


  • Túnel pra ligar a Bolívia ao mar: 150km percorrendo o Chile e o Peru, terminando em uma ilha artificial construída com resto de obras. Demoraria 10 anos pra construir. Um ministro boliviano quando ouviu a proposta ficou alguns minutos rindo...

  • Francês que envenenava lentamente a amante colocando gotas de arsênico na geléia só pra garantir que ela dependeria dele...

  • MP 458, que prevê a regularização de lotes na Amazônia sem obrigação de recuperar área de preservação, (legitimando a grilagem)

Série "Idéias Bacanas"


  • A cidade de Vauban, na Alemanha, proibiu o uso de carros. A qualidade de vida agradece...

  • O índice de Felicidade Interna Bruta do Butão (virei fã)

  • O vídeo da Stephany em seu Cross Fox (pra curar o mau humor)

  • Vagões exclusivos para mulheres no metrô do DF (porque ninguém merece ser tomate de frutaria...)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Em busca da felicidade no Butão


Substantivos abstratos, como aprendemos na escola, não são mensuráveis, por isso eles são abstratos... Mas a gente aprende na marra que nessa vida nada é absoluto, tudo é relativo, então segundo os meus cálculos (IEA - Instituto de Estatística da Aline), felicidade, que é um substantivo abstrato, dá pra medir sim. E o nível por aí tá bem baixo...

Se bem que o conceito de felicidade é muito complexo. O que pode significar felicidade pra mim pode não ser pro outro. Mas o fato é que felicidade é aquilo que nos faz sentir bem, um sentir bem que é pleno, mesmo por um breve momento de plenitude, se é que dá pra entender. O mundo que está diante de nós tem cada vez menos espaço pra humanidade, no sentido de nos fazer sentir humanos. E se sentir cheio de humanidade é algo diretamente proporcional à felicidade.

Pois nesses tempos de crise econômica eu queria é morar no Butão, um reino budista encravado no Himalaia. Lá não tem PIB, tem FIB – Felicidade Interna Bruta. O primeiro-ministro do grande Butão (tem 700 mil habitantes no total), por exemplo, já afirmou que é preciso investir no FIB, que a crise é o resultado dessa dedicação total ao desenvolvimento econômico.

No grande Butão, o governo cria condições para o FIB. Setenta e dois indicadores analisam o nível de felicidade da população. Por exemplo, é medido quanto tempo cada pessoa passa com a família, no trabalho, no lazer e etc! Já pensou?! ALGUÉM se importar se você está feliz?!

Vida longa ao Butão!

Dá um trabalhão chegar no Butão

Não há vôos diretos do Brasil. O país só tem um aeroporto, na cidade de Paro, e pra chegar lá é preciso fazer conexão em Bangcoc (Tailândia) ou em Nova Déli (Índia). E tem de ter visto.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Cão em corpo de gato


Eu gosto de gatos. Quando era criança diziam que os gatos eram traiçoeiros, mas eu cresci, vivi e descobri que traiçoeiras são as pessoas... Os gatos são legais...

O Fred, por exemplo, o gato da minha irmã (que eu só chamo de Gatinho e ele atende numa boa) é gente fina, mas nasceu no corpo errado. Tem gente que tem problemas de sexualidade, o Fred tem problema de “especialidade”, ele nasceu na espécie errada. Era pra ser cão, mas é gato.

Os cães latem quando querem chamar a atenção pra alguma coisa. O Fred mia. É um miadinho bem esganiçado e insistente. Ele mia quando quer sair. Mia quando quer comer, mia quando quer atenção, mia quando quer brincar, até pra fazer xixi ele mia. Ele definitivamente mia, mia, mia.

Os cães mordem, os gatos se defendem com suas garras afiadas. Mas o Fred morde! Ele morde tudo: mãos, pés, bolsas, sapatos, tapetes, enfim, tudo. Eu nunca tinha visto um gato morder, mas o Fred morde e eu nunca o vi mostrar as garras pra ninguém. Ele morde.

A gente chama um cão com um assobio. Eu chamo o Fred com dois psiu e ele vem, que nem um cãozinho. Da minha casa pra casa da minha irmã deve haver uma distância de, no máximo, cinco metros (ela é minha vizinha da frente) e quando eu o chamo pra ir lá em casa, com os dois psiu ele vai, numa boa.

Os cães andam em coleiras. O Fred não precisa, ele obedece ao comando da voz, a não ser quando sai correndo que nem um cão enlouquecido pelas escadas andar acima. A gente mora no primeiro andar e ele já correu até o sexto, brincando de pique-pega. Ele corre, dá uma paradinha e olha pra trás conferindo se tá todo mundo atrás dele, se não tiver, ele espera... Nessas horas os dois psiu não adiantam...

Depois de todos esses elementos, acredito que o Fred sofra um bocado. Eu, por exemplo, dou a maior força pra ele, já que não tem jeito de transferi-lo pra outro corpo, tento estimular sua personalidade canina...