Emocionar-se diante da vida, pelo que eu saiba, é exclusividade humana. Pois hoje eu perdi o fôlego diante da morte. Perdi mesmo. Foram quase cinco segundos sem respirar, porque respirar me pareceu tão efêmero diante da (exclusiva?) crueldade humana que eu parei. Na tevê, de manhã cedo, mostraram a busca dos bombeiros do Rio por corpos de desaparecidos no Morro do Juramento. A história é ainda mais escabrosa, porque os familiares de desaparecidos acompanharam os bombeiros na busca, na tentativa (porque não há nunca esperança ao encontrar corpos...) de identificar seus mortos.
Na empreitada sórdida morro acima, Seu Adelson, que já procurava seu filho há alguns dias, reconheceu um corpo com as roupas de Adilson, de 18 anos, que namorava uma jovem do Juramento. Só reconheceu as roupas, porque o rosto foi desfigurado por uma tonelada de tiros. Nessa hora, pensei que azar também pode significar morte e Adilson foi vítima do azar de ter nascido pobre, morar na comunidade Furquim Mendes - dominada por uma facção criminosa rival à que atua no Juramento – ter sido confundido com alguém da quadrilha rival, ser executado e ter seu corpo infamemente jogado em um matagal no meio de um morro.
“O coração de pai não vai enganar”, desabafou o pai, achando ter tido sorte encontrar um corpo para enterrar.
Que vida mais severina...
“E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida). “
(João Cabral de Melo Neto)
2 comentários:
Caralho, nao sei nem o que dizer. Isso é muito tosco... :(
Não tem palavra mesmo. É aquela dor ruim no coração.
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