quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Dia de cão


Você percebe que teve um dia ruim quando descobre que não é uma pessoa tão legal quanto gostaria, que as pessoas não acham você uma pessoa tão legal quanto você gostaria, que tá sendo enquadrado pelo chefe, que o seu carro tá na reserva no meio de um engarrafamento quilométrico, que o seu cabelo tá parecendo um poodle depois da natação e que você não pode nem se afogar no chocolate porque descobriu que tem intolerância à lactose.

Pé-de-pato-mangalô-três-vezes!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

McDonalds, protesto, Islândia



A crise econômica derrubou os McDonalds da Islândia. A empresa decidiu sair de lá porque está muito caro manter um McDonalds no país.

A Islândia, que a gente conhece mais como o país da Björk, também ficou conhecida como o país que quase faliu com a crise global. Pois se há males que vêm para bem, a crise mexeu com a população, que mexeu as panelas e na “Revolução das Panelas” tirou o governo anterior. Protestar parece senso comum quando não se tem nada a perder...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Nem riqueza, nem fama

Foi numa primavera sem flores, cinzenta e chuvosa de Paris que Ana Clara, brasileira recém-chegada à França, conheceu um espanhol de Cartagena, com antepassados da Andaluzia, talvez ciganos. Ele mesmo não soube dizer. O espanhol, além de advogado, torcedor fanático de futebol e um homem um tanto rude, tinha um dom secreto – o de ler mãos. E por um desses acasos misteriosos de uma vida, a brasileira ficou cara a cara com o destino.

Foi revelado a Ana Clara mais do que ela gostaria de saber. Num instante de descuido, o advogado de Cartagena pegou as mãos de Ana Clara e leu-as.

- Faltam linhas em sua mão, falou o espanhol, como se revelasse algo de muita importância.

- Quais?- perguntou Ana Clara, num tom entre desprezo e curiosidade.

- As da riqueza e da fama, disse o espanhol, sem dó nem piedade.
E num impulso (quem estivesse por ali talvez dissesse que foi por medo), Ana Clara puxou as mãos e deixou o advogado de Cartagena falando sozinho. Que lesse a própria mão e chateasse a si mesmo, pensou ao se levantar.

A brasileira vagou pelas ruas de Paris, quem sabe a Cidade Luz mostrasse algo mais àquela que estava condenada a ser uma pessoa comum. Caminhando, ela olhou para os que estavam por perto e ninguém a notou. Pensou que eram todos “farinha do mesmo saco” e foi desse jeito vulgar que pensou não se reconhecerem por todos estarem incógnitos como gente comum. Talvez fosse a prova do que lhe foi dito.

Não seria rica e nem famosa. Ana Clara então lamentou não ser jamais uma dançarina internacional, nem uma grande cantora ou uma cientista de prêmio Nobel, apesar de não ter talento para nenhuma dessas coisas e nem mesmo tê-las desejado.

Menos inconsolável, ela sentou-se em uma daquelas cadeiras viradas pra rua num daqueles cafés parisienses, também comuns. Montou o quebra-cabeça de sua vida e o que parecia ser desgraça, era destino. Tudo pode ser apagado, mas nunca esquecido. Olhou para as pessoas que passavam pela rua. Não pareciam nem um pouco insatisfeitas em serem apenas o que são. De vez em quando, notou um sorriso no canto dos lábios em algumas daquelas gentes. Teve a idéia louca de perguntar como era levar uma vida ordinária, mas preferiu esperar e ter sua própria experiência.

Algumas horas depois, Ana Clara voltou a procurar o espanhol, agradeceu a leitura esotérica, se desculpou pela fuga e se comprometeu a ser o que sempre seria e o que sempre tinha sido até agora. E percebeu que o desafio era enorme, porque nada impedia uma pessoa comum de ser especial.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Maldade humana

Em conversa de bar consideraram que a maldade e a intolerância são parte intrinsecamente genética do ser humano. O ser humano é mau, nasce mau e se torna mau porque faz parte dele. Eu, como pollyanna incurável e otimista de carteirinha, discordo. Primeiro porque ninguém até hoje comprovou que a maldade está nos genes da raça humana, segundo porque nós somos todos um pouco bons e um pouco maus, mas daí a seguir a maldade como forma de vida são outros trocados. E isso vai depender de onde você viveu, com quem você viveu, de que forma você viveu, quais são suas referências e influências culturais, familiares, sociais. Enfim, é complexo descobrir porque alguns são mais maus do que outros e mesmo assim é uma análise fadada ao fracasso porque muitas vezes não existem explicações suficientes para isso.

Também não considero a maldade como essência do humano porque dessa forma estaria justificando todas as aberrações da história: holocausto, fascismo, nazismo, inquisição, genocídios.
Não existe preto no branco, mas escalas de cinza, ou seja, pela estrada da vida cada um comete sua maldadezinha de vez em quando (às vezes se arrependem...) ou suas bondadezinhas aqui e acolá. E tem aqueles que se sobressaem por algum motivo (social? Familiar? Cultural?) no jogo de maldades e de bondades na vida. E muitas vezes, como na África do Sul por exemplo, a violência – prima da maldade – é uma defesa contra o esquecimento.

Na África do Sul a polícia foi terceirizada porque a violência assumiu o país. Lá, as pessoas são pobres. Lá faltam “forças da ordem” pra botar ordem na pobreza e por isso começaram a surgir empresas que oferecem o serviço. E o fazem de forma brutal.

Em um documentário da tevê a cabo eu vi um ladrão pego por uma empresa (aí elas o entregam pra polícia) ser espancado à vara lá na África do Sul. O repórter do documentário, quando viu o ladrão com as mãos algemadas para trás, a camisa encharcada de sangue e os olhos esbugalhados de terror e medo depois da surra, perguntou o que tinha aconteci ao chefe da equipe pegou o elemento. “Demos uma lição nele”, disse o chefe. “Mas não é um exagero brutal?”, perguntou o Theroux. “Se a gente dá uma lição neles, eles nunca mais vão roubar”, explicou o chefe. O fato é que a surra não funciona, porque os ladrões continuam surgindo por toda a África do Sul, paralelamente à miséria.

Eu não justifico a violência e esse caso é o extremo do que pode acontecer quando as pessoas não têm mais nada a perder, ou a ganhar. São todas más?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Coisas simples da vida


Embora fosse muito chique eu ser chique, não sou. No início era sofrido, mas agora que eu pago as minhas faturas ficou simples. Por exemplo, pra conquistar meu coração não precisa me chamar pra lanchar num café francês, porque meu lanche preferido é leite com Toddy + pão com manteiga (pode até ser pão dormido). Também adoro pastel de banana com queijo, mas aí tem de ser ocasião especial. Eu não uso salto alto: primeiro porque com 1,57m nada me faz parecer mais alta e segundo porque eu adquiri dores na coluna. Não gosto de fazer as unhas toda semana porque tenho preguiça e ninguém vai gostar mais ou menos de mim só porque eu tô com as unhas pintadas ou não né. Eu não gosto de usar batom, porque toda vez que uso, parece que sou outra pessoa. Eu não uso maquiagem importada... porque eu tenho alergiaaaaaaaa! (Mas das coisas da Avon eu não tenho...). Não posso usar jóias porque como eu sempre perco, vira prejuízo. Então, sou a simplicidade em pessoa...

domingo, 4 de outubro de 2009

Todavía Cantamos

A argentina Mercedes Sosa, “La Negra”, cantora da liberdade, morreu aos 74 anos neste domingo. Sua voz e suas músicas continuam vivas. Hasta Siempre.


Todavía Cantamos

Mercedes Sosa


Todavía cantamos, todavia pedimos,
todavía soñamos, todavía esperamos.
A pesar de los golpes que asestó en nuestras vidas
el ingenio del odio, desterrando al olvido
a nuestros seres queridos.

Todavía cantamos, todavia pedimos,
Todavía soñamos, todavía esperamos.
Que nos digan a donde han escondido las flores
que aromaron las calles persiguiendo un destino.
Donde, donde se han ido.

Todavía cantamos, todavia pedimos,
Todavía soñamos, todavía esperamos.
Que nos den la esperanza de
saber que es posible
que el jardin se ilumine con las risas y el canto
de los que amamos tanto.

Todavía cantamos, todavia pedimos,
Todavía soñamos, todavía esperamos.
Por un dia distinto sin apremios ni ayunos
sin temor y sin llanto y por que vuelvan al nido
nuestros seres queridos.

Todavía cantamos, todavia pedimos,
Todavía soñamos,
todavía... esperamos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Gagueira na hora H

A parte mais ridícula de ser eu é a minha gagueira (temporária). Eu fico gaga, mas só diante de pessoas que admiro e homens interessantes. E isso é muito inconveniente porque na hora em que mais preciso do meu discurso inteligente-interessantepracaramba não consigo nem falar bla-bla-bla de uma só vez.

A primeira vez que percebi o problema foi com o marceneiro. Eu precisava de um armário embaixo da pia da cozinha e chamei um marceneiro. E ele veio. E na hora em que abri a porta ele era um deus grego, “phyna” flor da marcenaria. Ele resolveu me fazer muitas perguntas (pra poder fazer o móvel) e eu, gaga, não respondi por inteiro nenhuma delas. Resultado: tiveram de mandar outro marceneiro lá em casa e esse outro não tinha graça nenhuma. O armário ficou pronto em menos de um mês.

Mas a não-entrevista com o padre Fábio de Melo foi um dos piores momentos de todos os meus tempos. A gagueira deixa a gente meio incompetente nessas horas. O padre, perdoem o trocadilho, é divino de lindo. Sorrindo então... é coisa do céu. Na hora de fazer as perguntas não só fiquei gaga como burra. Um colega me salvou, mas a dor moral de ter feito o papelão (ou pastelão?!) teve efeito de ressaca de vodca...

O capítulo mais recente do meu reality show “Eu, uma gaga” foi com um instrutor-gato-da-natação. Ele resolveu conversar comigo. Eu sempre evito isso, mas dessa vez fui pega de surpresa:

- Oi, tudo bem? Você está melhor da sua coluna? A natação está te ajudando em alguma coisa? – perguntou

- Ahan – eu disse, pra evitar qualquer impulso de gagueira

- E os exercícios da academia estão de ajudando? – insistiu

- Claro – eu disse, entrando em pânico e sentindo a gagueira surgindo nas veias

- Você ainda tem dor? – continuou perguntando

- De-depende do exercício – eu disse, já com a gagueira iminente

- Qual exercício? – insistiu!

- Le-leg press – eu disse, pensando “Meu Deus, será que ele vai insistir nisso?”

- Olha só – falou o cara, já tirando a camisa (pra mostrar a posição certa da coluna na hora de fazer o tal movimento) e mostrando toda a beleza do tipo "ô lá em casa"
-Tenho que ir, tchau! – eu disse, saindo correndo, porque aí já é demais, não tem gagueira que aguente...