terça-feira, 1 de setembro de 2009

A vida é dura

C.C. tem apenas um ano de idade a mais do que eu. Quando descobriu isso ficou surpresa, mas não fez cara de chateada ou talvez porque tenha problemas tão mais importantes para se preocupar. C.C. mora em Águas Lindas de Goiás e trabalha na casa de meus pais de segunda a sexta-feira. Chega, religiosamente, às 7h. De sua casa até a de meus pais são quase 60km, o que de carro daria uma meia hora, mas C.C pega, todos os dias, uma condução antes das 6h para chegar às 7h em ponto no trabalho. E C.C tem dois filhos – um deles é o “Bombomzinho”, o qual não conheço, mas que sempre liga durante o dia - , ganha um salário mínimo e trava aquela batalha diária da sobrevivência que é um clichê tão grande quanto o número de pessoas que estão na mesma situação dela.

C.C. leva uma vida dura. Uma vida da qual a classe média desse país não tem ideia porque está bastante preocupada em resolver questões como quantas prestações vai comprar o carro do ano, em qual barzinho da moda vai desfilar as roupas compradas em um outlet de New York e quando vai sair a próxima promoção da CVC para os EUA.

Então, por tudo isso, é bem explicável que eu pareça mais jovem que C.C. Minha batalha diária se resume a resolver minha insatisfação filosófico-existencial. Tudo isso me faz lembrar do diálogo que li num livro sobre duas filósofas francesas contemporâneas: Simone Weil e Simone de Beauvoir. Na Faculdade de Filosofia, Beauvoir e Weil discutiam a Revolução. Beauvoir dizia que a solução para uma nova sociedade era “encontrar um sentido para a existência" e nesse momento Simone Weil retrucou: “Bem se vê que você nunca passou fome”. Boa resposta.

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