quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Novo ano é todo dia


No novo ano não quero fazer tudo de novo. Nem fazer as mesmas coisas darem certo. O tempo do ano quando acaba é só uma marcação de tempo que alguém criou. Então o ano novo é todo dia, toda hora, todo instante, mas se só é ano novo quando marca o relógio, então quando ele começar eu quero é fazer tudo diferente dar certo. Eu nem quero ser diferente, eu só quero ser quem eu sou sem muito esforço, sem marcação de tempo. Eu quero mesmo é que meu ano novo demore a acabar e comece o tempo todo...
Só um lembrete:
Não há um caminho para a paz. A paz é o caminho.
Não há um caminho para a liberdade. A liberdade é o caminho.
Não há um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O instante de ser especial



Pessoas especiais são especiais pra sempre no tempo de alguém. É num instante especial que alcançamos a eternidade, porque um momento especial pode se tornar infinito na nossa memória. Eu compartilho pessoas especiais na minha vida e infinitamente agradeço a presença de seus instantes que me tornam a cada instante um pouco mais especial. E que 2011 seja tão especial como cada um que passou pelo meu tempo foi comigo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Lembranças


A sombra do que me assombra se transformou em névoa do passado, guardada embaixo do mais fundo esquecimento. E na ausência de memória só há a mais remota lembrança. A lembrança de que um dia poderíamos ter sido, mas que nunca fomos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Em um outro tempo


Num instante do tempo, a Lua encontrou o Sol e contou em segredo:

- Dos amores que eu amei, você foi quem me deixou mais inteira, mas só depois de me fazer aos pedaços muitas e muitas vezes...

E o Sol, sem ter mais o que dizer, raiou o dia. E amanheceu.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O mundo


O mundo não é como a gente pensa. O mundo surpreende. O mundo pesa. O mundo traz clareza. O mundo é profundo. O mundo não é real dentro do nosso imaginário. O mundo é muito real dentro e fora de nós. O mundo me pega de jeito ás vezes. O mundo me faz sorrir. E me faz chorar. O mundo me abençoa, me carrega no colo, me faz sonhar. O mundo, tem dias, que é um pesadelo. O mundo fora de mim é estranho. O mundo dentro de mim é obscuro. O mundo das pessoas é um. O mundo meu é outro. O mundo é melhor quando é nosso, mas nosso mesmo nenhum mundo é totalmente. Meu mundo não é nenhum Outro. Um dia, o Outro foi meu mundo e o mundo caiu. O mundo me faz levantar várias vezes, mas já me jogou no chão muitas outras. O mundo, como dizia Cartola, não é só um moinho. O mundo me dá medo de ter coragem, mas me encoraja a seguir em frente. O mundo é pequeno diante de todo o universo de mundos. O mundo acontece todo dia na minha janela. Meus pensamentos voam o mundo à velocidade da luz e não chegam a lugar nenhum. Meu mundo amanhece a cada dia com a sensação de que alguma coisa vai acontecer no mundo. E acontece: a vida.

Para a J.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural



Esse texto abaixo foi o meu primeiro texto neste blog. Hoje, passeando por ele, me toquei de que continuo concordando que a minha geração continua andando nesse mundo como se estivesse à deriva. E eu cheguei à conclusão de que eu achei meu bote salvavidas, porque, olha que clichê: ele sempre esteve dentro de mim... mas como disse Brecht: "não aceiteis o que é de hábito como coisa natural"
Então, a minha geração é assim:

A minha geração se diverte com filmes ousados e inteligentes, pensando que algum dia, quem sabe, eles mudem a forma dos outros pensar. A minha geração gosta de música que tenha algum sentido e resista ao que todo mundo já sabe. A minha geração sai pra comer semanalmente fast food reclamando que os fast food são símbolo de um modo de vida que ela, a minha geração, já adotou faz tempo e nem se dá conta.

A minha geração está insatisfeita, mas nunca parou pra pensar em ousar fazer diferente. Ou porque está perdida no meio de um mundo que se impõe diante de nossos olhos.

A minha geração não precisou lutar para conseguir o que quer, porque sequer sabe o que realmente quer. A minha geração se acostumou a ver a luta dos outros, a apoiar a luta dos outros, a achar que tudo é uma questão de acomodação, a refletir sobre a mobilização e a falta dela, a achar que falta alguma coisa nesse quebra cabeça de mundo. Mas a minha geração não faz esforços para descobrir que raio de peças são essas, que faltam, que não se encaixam, que podem mudar a figura do jogo...

Aí, eu pensei nessa poesia do Bertold Brecht e que me deu esperanças...

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Oscar Azevedo não existiu


Era setembro, a terra e o tempo estavam secos, num dos mais rigorosos períodos de seca da Capital, quando Oscar Azevelo desapareceu sem deixar rastros naquela tarde de quarta-feira modorrenta. Ele, um homem de meia idade que morava sozinho no nº 308, sumiu misteriosamente, dentro de seu próprio apartamento, sem sinais de arrombamento. A porta estava trancada e o imóvel impecável, como de costume.

Oscar Azevedo era solteiro e muito organizado. Trabalhava como corretor de imóveis havia 15 anos, morava ali há 10 e era síndico há três. Educado, simpático e bem apessoado, além de muito reservado, ele era reconhecido pelos moradores como o homem que mudou para sempre o condomínio. Remodelou o prédio (que tinha um quê de barroco decadente dos anos 50 e passou a ter um visual mais moderno e revigorante), trocou a caixa d´água que nunca tinha sido trocada, mudou o piso do pilotis e colocou câmeras para alívio dos moradores inseguros.

O síndico-corretor era um homem de uns 50 anos e ao que parece não tinha família. Nunca falou de ex-mulher e filhos. Era sozinho. Os moradores nunca viram visitas chegarem ao nº 308 enquanto lá ele morou. E era até estranho, porque Oscar Azevedo não era um homem feio, era até bem charmoso, alto, corpo em forma já que era adepto de corridas. Todo dia, impreterivelmente às 6h, ele saía para dar sua “corridinha”. Era vaidoso, andava bem vestido, com ternos bem cortados, perfume importado.

Segundo investigações da Polícia, Oscar Azevedo não tinha inimigos. Assim como não tinha amigos. Era, como comentou um agente (este era formado em literatura, mas acabou virando policial e se converter à categoria dos que têm emprego), um “estrangeiro de Cammus”. Vivia como se não existisse. Passou pela vida sem deixar rastros, desapareceu como se nunca tivesse vivido. Ninguém notou sua ausência até o dia da reunião do condomínio, numa quarta-feira, lembra a vizinha do apartamento ao lado, que também era a vice-síndica.

Oscar Azevedo não deixou saudades, não deixou dívidas, não deixou amigos, não deixou feitos, nem mau feitos. Sumiu e só o descobriram sumido numa quarta-feira modorrenta de setembro. Na hora em que o chaveiro arrombava sua porta e entrava em seu apartamento com ares sofisticados, tocava Vanessa Damata: “Não me deixe só, eu tenho medo do escuro, eu tenho medo do inseguro...”. E ninguém achou que aquilo era sinal de nada.

sábado, 1 de maio de 2010

Mundo Animal

Ilustração de Jano


Andando pela calçada esquerda, ele olhou para cima e por um instante a claridade do dia o fez fechar os olhos franzindo a testa. Quando os abriu, o mundo já não era mais o mesmo. Ao passar pelo ambulante da calçada esquerda - que ali estava todos os dias, àquela mesma hora, naquele mesmo pedaço de calçada esquerda - o ambulante sorriu com aquele sorriso de gato de Alice no País das Maravilhas. Pois ele nunca tinha reparado que o ambulante tinha todo aquele sorriso, tão largo, tão grande.
Mais adiante, passou pela loja de sapatos, onde sempre dava uma espiada na vendedora loura, estilo Marilyn Monroe com Afrodite, alta e simpática. Naquele dia, ela estava na porta da loja. Quando passou, viu, pela primeira vez, que ela parecia uma avestruz elegante. Ainda assim irresistível, pensou ele. Naqueles mínimos segundos (como acontecia todos os dias quando passava em frente à loja de sapatos), sentiu um aquecimento do lado do coração, uma explosão de felicidade correu nas veias e continuou a caminhada como um louco apaixonado, assobiando um samba triste do Cartola.

Antes de chegar ao trabalho passou na padaria e pediu o de sempre: uma boa média que não fosse requentada e um pão com manteiga. O atendente que lhe trouxe o pedido levantou a cabeça. Tinha cara de porco espinho. Resolveu dispensar naquele dia o café e o pão. Ficou com medo de morrer espetado enquanto engolia a refeição.

Chegou na repartição e foi direto para o computador. O colega do lado, puxa-saco de plantão, veio puxar conversa, para saber das novidades e contar alguma vantagem. Olhou para ele e ele tinha cara de cachorro. Ah, tinha de ser, pensou ele.

O chefe chamou. Ele deixou o colega-cachorro falando sozinho. Na sala do chefe, pensou que cara teria o chefe, se fosse de dragão com certeza pediria demissão. Nada. O chefe tinha cara de cavalo. Graças a deus, pensou, cavalo é o tipo de bicho que dá pra conviver.

Recebeu as ordens do dia e antes de começar a colocar a mão na massa foi ao banheiro. Antes de se olhar no espelho pensou que se tivesse cara de hipopótamo, ia voltar para casa e se trancar no quarto, porque hipopótamo era um bicho muito esquisito. Abriu os olhos: tinha uma cara assim meio de sabiá. Ele sempre suspeitou que pudesse voar...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

No orelhão


O dia era domingo, verão estilo aquecimento global, praia lotada, ruas lotadas, coletividade disposta a ver o sol a pino. Corpos ao sol, estirados na areia, marzão domesticado como piscina. Ambulante de coxinha, empada, sanduíche, salada de frutas, queijo, mate e o que mais couber no isopor.

Ás 13h, o casal em lua de mel - vieram de Minas para curtir o tal do Rio de Janeiro efervescente que disseram pra eles -, cansados do calor, da multidão apertada na areia e do soléu - resolveram voltar para o hotel.

- Vamos pela sombra tá, eu não aguento mais tanto sol, disse a mulher, franzina, acanhada e quase um pimentão.

- Tá bom, meu amor. Então vamos pela calçada do outro lado da rua, comentou o marido.

Foram. Na calçada do outro lado da rua (onde há sombra por conta dos prédios gigantescos), enquanto eles passam pelo prédio número 53, toca o orelhão. Eles se olham, olham em volta, de repente alguém estava esperando a ligação do orelhão. Ninguém aparece. O orelhão continua tocando.

Ele lembra que já viu um filme em que o orelhão no meio da rua toca e eram todos terroristas do outro lado da linha. Ela reflete sobre a probabilidade de alguém telefonar para um telefone público na praia e alguém atender. Pois ela mudou toda a probabilidade do momento e atende.

- Alô? - diz a mulher, um pouco encabulada, mas a essa altura a curiosidade já era muito maior que a timidez.

- Oi, será que você poderia me dizer se tá sol aí... - disse a voz do outro lado da linha.

- Tá, uai... sol de rachar... - respondeu a mulher, sem entender nada.

- Mas e o mar, tá bravo ou dá pra tomar banho? - perguntou a voz.

- Tá igual piscina, dá pra tomar banho tranquilo - informou a mulher.

- Ah, então tá, brigada viu. E a voz desligou.

O marido, que ficou afastado do orelhão com medo de que a coisa explodisse, até tentou impedir a mulher de atender o telefonema, mas não deu tempo. Só viu a mulher batendo papo, em um orelhão público, na praia, no Rio de Janeiro, momento esse que venceu a probabilidade de isso não acontecer.

- Quem era? - perguntou o marido

- Sei lá... esses cariocas não batem bem não... por que alguém liga pro orelhão da praia só pra saber se a praia tá boa? E como sabia que alguém ia atender? - comentou a mulher.
- Ah, então vamos ficar mais um pouquinho... a praia tá tão boa.... - falou o marido, com cara de manha.
Voltaram pra areia. Agora foi mais difícil arranjar um espaço, porque àquela hora ninguém se importava com raios UVA e UVB, todo mundo queria estar de frente para o mar. Divertiram-se até o pôr-do-sol naquele burburinho como cariocas da gema num efervescente domingo de verão do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

No pior somos melhores?


Constantine (que é o Keanu Reeves...) descobre o plano brilhante-maquiavélico do anjo: abrir as portas do inferno. Como desgraça pouca é bobagem, o anjo acha que liberando a entrada pra demoniada em geral vai tornar os humanos mais humanos. Ele chegou à conclusão de que o ser humano só conseguiu desenvolver a bondade nos momentos de tragédias da história, então trazendo o inferno pra Terra a bondade vai aflorar...

Lembrei desse filme quando li o texto do blog do Sakamoto "O aguaceiro no Rio pode levar a uma cidade mais justa?. Sakamoto se pergunta (e nos pergunta) se ricos e pobres, "dividindo a mesma situação, talvez enxergassem no outro não apenas um personagem na TV e sim um igual e juntos buscassem uma solução". Taí um pouco da mesma lógica do anjo: se todos estamos no pior, podemos nos tornar melhores, porque nesse caso, inusitadamente um rico se preocuparia com um pobre e vice-versa e então a utopia de uma sociedade "livre, justa e solidária" daria um passo à frente...

O problema é que no pior também podemos nos tornar muito piores. Em meio à barbárie - e nem precisa ser durante a guerra - há decadência moral e mais barbárie. E olha que o Saramago já mostrou bem do que somos capazes em meio à barbárie no Ensaio sobre a Cegueira (cada um daqueles personagens podia ser um de nós, já pensou nisso?)

Então, ser melhor ou pior no pior vai depender do quê? Vai depender de que tipo de sociedade queremos...

domingo, 28 de março de 2010

Trabalho motiva?




A única coisa que Frederick Herzberger e Paul Lafargue tiveram em comum foi a origem judaica. Eles não foram contemporâneos (portanto nem se conheceram), não compartilharam ideias ou ideais, não eram da mesma profissão, não nasceram no mesmo país, não falavam a mesma língua e mesmo assim quando me falaram do Herzberger a primeira coisa que me veio a cabeça foi o Lafargue. Eu explico.

Herzberger nasceu em 1923 em Boston (EUA), filhos de imigrantes judeus vindos da Lituânia. Lutou na Segunda Guerra Mundial e ajudou a cuidar da alimentação e da saúde dos judeus sobreviventes do Campo de Concentração de Dachau. Voltou aos EUa, virou psicólogo clínico e professor universitário. Morreu em 2000.

O mais importante mesmo foi que ele se tornou um dos grandes teóricos da motivação do trabalho com a Teoria dos Dois Fatores. Resumindo a teoria: os fatores higiênicos (salário, infraestrutura, ambiente) se não existirem serão desmotivadores, mas o fator motivador mesmo seria o trabalho em si. Seria mais ou menos assim: o que te deixa pra cima mesmo é o trabalho que você efetivamente faz, entendeu?

Aí entra o Lafargue. Lafargue nasceu na Jamaica em 1842, filho de pai mulato e de mãe de origem judaica e caribenha. Foi estudar na França, virou jornalista, ativista político e tão marxista que se casou com uma das filhas de Karl Marx (que a princípio não curtiu muito ter um genro mulatinho). Lafargue não foi teórico de nada, mas escreveu um manifesto genial chamado "O Direito à Preguiça" onde ironiza o "direito ao trabalho" e dá um bronca na sociedade moderna, que ficou viciada em trabalho e propõe a regulamentação de 3 horas de trabalho por dia, para que o trabalhador pudesse passar as outras horas sendo feliz.

Eu, como não sou cientista, não sei se o trabalho em si motiva alguém. Mas a ideia de ser feliz, ah, isso sim, me motiva...

segunda-feira, 22 de março de 2010

Se não guenta, por que veio?


A quarenta minutos da prova, 20 pessoas na sala sentados em silêncio e o baixinho atarracado da cadeira da frente resolve virar pra trás e fazer um comentário:

- É um absurdo, né. A gente não pode sair daqui.

A moça da cadeira de trás pergunta:

- Mas você quer sair? Porque agora não dá mesmo, só depois de uma hora de prova.

- Tá, mas e se eu passar mal, insinuou o baixinho.

- Mas você tá passando mal? Porque aí eles te levam pro posto médico, mas você só sai daqui a uma hora, explicou a moça.

- É um absurdo! Isso aqui parece uma ditadura! - bradou o baixinho, que além de atarracado começou a ficar antipático.

- Você tá passando mal? - perguntou de novo a moça, incrivelmente gentil.

- Nâo... mas eu quero intacto o meu direito de ir e vir. A gente vive numa era de democracia, é o meu direito de ir e vir !- discursou, com ares democráticos, e começou a parecer, além de atarracado, antipático, com aquela cara de tucano...

A mulher da cadeira da fila ao lado não resistiu e se intrometeu na conversa:

- Vem cá, mas se você não tá passando mal e não quer ficar aqui, então veio fazer o quê, colega?

O baixinho atarracado se sentiu ofendido:

- E você é fiscal por acaso? Eu quero o meu direito de ir e vir, só isso. Isso aqui tá parecendo Cuba! Daqui a pouco vai ter gente fazendo greve de fome!

A moça da cadeira de trás respirou fundo, contou até três e ignorou o baixinho atarracado. A mulher da cadeira da fila ao lado achou que o cara era doido e que aliás ele tava bem gordinho e que parar de comer até ia dar um trato no físico... e que aqui, vamos combinar, tá longe de ser Cuba em qualquer sentido...

sexta-feira, 19 de março de 2010

Paz Interior


Repetiu "Om" 25 vezes, sentada no chão, de pernas cruzadas estilo Buda. Repetia e respirava, repetia e respirava. Contou 25 vezes. A paz interior não chegava, não chegava. Bem que alguém tinha lhe dito que não é assim, de bate-pronto. Tentou de novo. Mais 25 vezes repetiu e respirou, repetiu e respirou. Nesse meio tempo pensou na agenda lotada do dia, em todas as obrigações pendentes, no extrato bancário temeroso, no dia que tava tão bonito. A mente vagueou, vagueou, até que resolveu ir ao salão. Foi. Solicitou fazer pé, mão, hidratação profunda e corte. Saiu de lá de mãos dadas com a paz exterior...

terça-feira, 9 de março de 2010

O Fetiche do Macacão


Tinha um macacão verde lindo na vitrine. Lindo e caro. Me imaginei com ele, poderosa. Dormi pensando nele, uma angústia de não ser mais eu sem o macacão. Esse macacão deu um sentido à minha vida. Por isso, hoje não me sinto eu mesma.

Eu não sei de onde nasceu essa necessidade do macacão. Nunca a tive. A pergunta certa é: por que mesmo eu preciso desse macacão? De onde surge essa necessidade, essa angútia de ter o que não se precisa e de ser o que não se é? De onde vem essa certeza de que uma coisa pode preencher aquele vazio dentro de você, sendo que não vai, jamais?

E de onde veio esse macacão do diabo pelamordedeus? Coitado, ele é só o resultado do tempo em que vivemos. Ganhou vida própria num estalar de dedos logo depois de ter sido colocada a etiqueta de preço e provavelmente surgiu das mãos de costureiras mal pagas.
Olhando assim, eu não preciso do macacão. Começo a me sentir eu mesma...acho que posso conviver com isso...

domingo, 7 de março de 2010

Contículo



O massagista pegou a mulherzinha pra cristo naquele dia. Tratou-a como massa de pão: sovou, bateu e amassou. E na dor, ou se ri ou se chora. Mas ela se controlou ou então as gargalhadas iriam preencher todo o espaço vazio. Aguentou heroicamente os 40 minutos, num misto de penitência, martírio e falta do que fazer. Ficou pensando na possibilidade de pensar em outra coisa que não aquelas dores e, assim, terminou o tempo. Na porta, ao sair, a placa dizia: "relax massage".