quarta-feira, 27 de maio de 2009

Descoberto o mecanismo da chatice


Foram necessárias décadas de pesquisa, todas muito chatas, para que tão importante descoberta se concretizasse. Dr. Gino, além de gênio do ramo da ciência genético-comportamental, tinha um bom motivo para romper as barreiras do desconhecido: sua mulher era muito chata, tanto quanto poderia sonhar qualquer filosofia.

O caso da Sra. Gino era espetacular. Ela era chata como um bêbado inconveniente, nunca sabia a hora de parar. Era uma chateação constante em casa, no trabalho, com os vizinhos, no supermercado e até na cama, com o marido, porque amante nenhum suportaria mulher tão insuportável. O problema é que a Sra. Gino contagiava os outros com sua chatice e isso sim era insuportável.

Nem mesmo a etiqueta social podia agüenta-la. Épocas de festas, aniversários e afins de conhecidos e parentes eram desesperadoras (para os conhecidos e parentes, claro). Convites tinham apenas o nome de Dr. Gino, um recado explícito para que deixasse sua desagradável mulher em casa. E se a tal comparecia (de vez em quando algum bom samaritano com crise de consciência a convidava), havia sempre um cantinho bem escondido para acomodá-los, pelo bom andamento da festa.

É muito difícil definir a chatice. O que pode ser dito é que ela se torna um estado permanente em alguns seres que se arrastam pela existência a chatearem o próximo sem se importarem com isso. Quem nunca teve um amigo chato, que atire a primeira pedra. Chato é aquele que manipula a conversa no bar com histórias insuportáveis de feitos impossíveis e que ninguém agüenta mais ouvir. Chato é aquele que NINGUÉM quer dar carona. Chato é aquele que nunca se anuncia para não atraí-lo...

Pois a Sra. Gino era tudo isso e muito mais. Ela era tão chata que no sexo sempre pedia rapidez porque tinha de acordar cedo, nem fingia mais o gozo para não se atrasar e depois do ato ainda fazia cara de quem comeu bolacha cream cracker amanhecida há três dias.

Com tal mulher em casa, Dr. Gino, cientista de boa reputação internacional e uma séria intenção, resolveu pesquisar o mecanismo da chatice. Foram quase 30 anos de investigação e milhares de dólares gastos, porque, ao que parece, chatice é uma questão de saúde pública. A descoberta levou Dr. Gino, um homem de meia-idade bastante carismático, ao fundo da questão: não era a genética e muito menos a educação que criavam a chatice, mas o próprio indivíduo.

A chatice, escreveu em seu artigo publicado na revista Human Nature, referência mundial em descobertas comportamentais, era um sistema de defesa que, assim como os glóbulos brancos no organismo, defendiam o ser humano dos ataques. Mas a chatice, descreveu, era uma falha, uma doença autoimune.

A pesquisa de Dr. Gino causou comoção na comunidade científica internacional, o que lhe garantiu convites para universidades conceituadas e investimentos em futuros trabalhos. Empolgado com o sucesso repentino, certo dia, Dr. Gino chegou em casa e preparou o jantar, comprou um bom vinho, encomendou a sobremesa e na hora do cafezinho pediu o divórcio depois de 30 anos de casado. Afinal, já tinha descoberto o mecanismo da chatice da mulher e a culpa não era dele...

2 comentários:

Elaine disse...

Ahahahahahhaha!!! Adorei o texto!! Mas será que as pessoas chatas não têm cura???

Aline disse...

Taí outra pesquisa a ser feita...