Em conversa de bar consideraram que a maldade e a intolerância são parte intrinsecamente genética do ser humano. O ser humano é mau, nasce mau e se torna mau porque faz parte dele. Eu, como pollyanna incurável e otimista de carteirinha, discordo. Primeiro porque ninguém até hoje comprovou que a maldade está nos genes da raça humana, segundo porque nós somos todos um pouco bons e um pouco maus, mas daí a seguir a maldade como forma de vida são outros trocados. E isso vai depender de onde você viveu, com quem você viveu, de que forma você viveu, quais são suas referências e influências culturais, familiares, sociais. Enfim, é complexo descobrir porque alguns são mais maus do que outros e mesmo assim é uma análise fadada ao fracasso porque muitas vezes não existem explicações suficientes para isso.
Também não considero a maldade como essência do humano porque dessa forma estaria justificando todas as aberrações da história: holocausto, fascismo, nazismo, inquisição, genocídios.
Não existe preto no branco, mas escalas de cinza, ou seja, pela estrada da vida cada um comete sua maldadezinha de vez em quando (às vezes se arrependem...) ou suas bondadezinhas aqui e acolá. E tem aqueles que se sobressaem por algum motivo (social? Familiar? Cultural?) no jogo de maldades e de bondades na vida. E muitas vezes, como na África do Sul por exemplo, a violência – prima da maldade – é uma defesa contra o esquecimento.
Na África do Sul a polícia foi terceirizada porque a violência assumiu o país. Lá, as pessoas são pobres. Lá faltam “forças da ordem” pra botar ordem na pobreza e por isso começaram a surgir empresas que oferecem o serviço. E o fazem de forma brutal.
Em um documentário da tevê a cabo eu vi um ladrão pego por uma empresa (aí elas o entregam pra polícia) ser espancado à vara lá na África do Sul. O repórter do documentário, quando viu o ladrão com as mãos algemadas para trás, a camisa encharcada de sangue e os olhos esbugalhados de terror e medo depois da surra, perguntou o que tinha aconteci ao chefe da equipe pegou o elemento. “Demos uma lição nele”, disse o chefe. “Mas não é um exagero brutal?”, perguntou o Theroux. “Se a gente dá uma lição neles, eles nunca mais vão roubar”, explicou o chefe. O fato é que a surra não funciona, porque os ladrões continuam surgindo por toda a África do Sul, paralelamente à miséria.
Eu não justifico a violência e esse caso é o extremo do que pode acontecer quando as pessoas não têm mais nada a perder, ou a ganhar. São todas más?
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